Quem adquire uma fazenda – não importa o tamanho – tem que encarar a atividade como um negócio que precisa ser gerido com profissionalismo e competência.
Partindo dessa visão, não faz sentido alguém se tornar criador simplesmente porque adora bichinhos. De fato, é importante a pessoa gostar dos animais que cria, mas não basta apenas possuir esse sentimento. É indispensável ter vocação de criador e ambição.
Como assim? Explico: um olho no rebanho, o outro na lucratividade. Isto significa que é indispensável sanidade, produtividade e boa comercialização. Negócio que não rende é furado e vai para o buraco a qualquer hora. Em princípio, não há atividades boas e atividades ruins. Existem, sim, alguns negócios bem geridos e outros extremamente mal conduzidos.
Quem passa a criar cabras porque acha os animais dóceis e bonitinhos está prestando um desserviço à caprinocultura. Cabra não é cachorro pet que vive em colo de madame. É um animal desprovido de afeto e mal-cheiroso. Mais ainda: não dá para tê-los dentro de casa, se esfregando nas pernas do dono.
Importa ressaltar que um criador profissional lê revistas especializadas e se mantém bem informado de tudo o que acontece em seu segmento. Ademais precisa de um veterinário ou técnico experiente que lhe dê assistência periódica e o atenda nas emergências. É preciso também não embarcar nos mitos. Dizem que cabra come tudo e é de ferro. Isso não é verdade. Pelo contrário, os caprinos são animais que adoecem com freqüência e morrem aos montes, quando criados em climas hostis ou recebendo um manejo inadequado.
De que vale criar animais lindos que não produzem o suficiente para cobrir os custos e até sobrar uma graninha que justifique o investimento e a dedicação do dono? Nenhum criador é bom se seu rebanho não tiver produtividade e der lucros.
Antigamente, as cabras pé-duras eram muito prolíficas. Os rebanhos de caprinos multiplicavam-se com uma rapidez incrível. Em época de parição, os chiqueiros ficavam cheios de cabritos. Dava gosto ver! Anemias, verminoses, clostidioses, eimerioses, nada disso existia nas caatingas sertanejas, onde grandes rebanhos eram criados, pastando soltos, só retornando ao chiqueiro à tardinha. Se algum animal morria era por picada de cobra ou devorado por onças famintas e traiçoeiras. Dizem que as doenças de hoje resultaram da introdução de raças exóticas em nosso país. São coisas da modernidade! Quem sabe, chegaram via satélite, captadas pelas milhares de antenas parabólicas que invadiram os sertões...
No passado, os chiqueiros eram construídos com cercas de faxina coladas à casa do criador. As cabras não entravam no quarto, mas, ainda assim, dormiam bem pertinho da cama do dono, separadas por uma simples parede. É que, naquela época, já existiam os espertos que, se aproveitando do lusco-fusco da noite, iam “buscar” o alheio no próprio chiqueiro. Daí o costume de se construir o aprisco contíguo à casa. Assim, o dono não precisava dormir com um olho fechado e outro aberto. Qualquer movimentação anormal o acordava.
Por conta dessa proximidade do chiqueiro com a casa, um dia, Pinto do Monteiro, o maior violeiro que já existiu no Nordeste, estava cantando com um companheiro na residência de um cidadão chamado Zé de Deja. A certa altura, o pai-de-chiqueiro começou a bodejar as cabras no chiqueiro ao lado, quase atrapalhando a cantoria. Foi aí que Pinto saiu-se com essa:
Que diabo tem esse bode
Que desde hoje bodeja?
O companheiro respondeu:
Certamente está gostando
De ouvir a nossa peleja.
Pinto, arguto e realista, completou:
Bode acha nada bonito,
Ele está fazendo é cabrito
Nas cabras de Zé de Deja!
É isso mesmo, Pinto, bode é para fazer cabrito nas cabras do fazendeiro. Do contrário, ele não paga suas contas.
Pedro Nunes Filho - Criador de cabras no cariri paraibano
quarta-feira, 14 de abril de 2010
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